RESENHA: Tiê Sangue - Elis Campos


          Elis Campos é formada em História pela UERJ, especializada em Leitura e Produção de Textos e mestranda em Literatura Brasileira e Teoria Literária pela UFF. Desde criança, escreve poemas e sonhava acordada com as histórias de pessoas que não conhecia no mundo real, mas as conhecia dentro dela. Este livro é a manifestação de umas dessas personagens que surgiu dentro da autora sem um motivo aparente, apenas pela vontade de existir.

          Tiê é o seu nome e o livro apresenta sete narrativas que retratam diferentes momentos na vida desta mulher. Maternidade, relacionamentos, a morte, questões existenciais e a condição de ser mulher nesse mundo caótico são alguns dos temas que permeiam a obra. Acompanhamos as transformações de Tiê, capítulo a capítulo, sofrendo junto, compreendendo-a e, muitas das vezes, enxergando um pouquinho de nós mesmos dentro da personagem. A narrativa, concisa, consegue se conectar com a gente muito rápido e, mesmo sendo breve, de uma forma muito profunda. Nos vemos diante de um drama pessoal que ecoa dentro de nós, um espelho em forma de livro e que pode trazer ensinamentos.

          O livro relata a vida como ela é: crua, dura e sem espaço para meritocracia; e transmite a mensagem de que por mais que a vida te pise, maltrate e seja injusta, suas dores, perdas, lutos e cicatrizes fazem de você quem você é hoje, e são indeléveis. Todos temos fantasmas e devemos aprender a conviver com eles. É preciso levantar, sacudir a poeira e buscar na ressignificação a força para prosseguir. Ressignificar, talvez seja essa é a palavra que melhor descreve este livro. É você pegar suas mazelas, ver o que pode fazer de melhor e... voar, como um tiê!



          E pra fechar, vou deixar aqui uma passagem que me marcou:

"Nós dificilmente pensamos na morte. Vivemos em uma ilusão coletiva de eternidade. Por isso criamos crenças de vida após a morte. Ou simplesmente acreditamos que podemos curar tudo. Mas, um dia, ela chegará e ninguém sabe ao certo o que acontecerá, ninguém tem 100% de certeza se realmente há um outro lado. Ninguém sabe se realmente não há nada, se simplesmente desaparecemos. Ninguém sabe de nada. No fundo, somos um bando de náufragos procurando se salvar em algum pedaço do barco. Com medo do que há no mais íntimo e profundo oceano."


Comentários