CITAÇÕES: Memórias do Subsolo - Fiódor Dostoiévski



📖 "Uma consciência muito perspicaz é uma doença, uma doença autêntica, completa. Para o uso cotidiano, seria mais do que suficiente a consciência humana comum..."


📖 "Odeia ou ama, apenas para não ficares sentado de braços cruzados. Depois de amanhã, o mais tardar, começarás a odiar-te, porque ludibriaste a ti mesmo, conscientemente."


📖 "Mas o homem é a tal ponto afeiçoado ao seu sistema e à dedução abstrata que está pronto a deturpar intencionalmente a verdade, a descrer de seus olhos e seus ouvidos apenas para justificar a sua lógica."


📖 "De fato, se a vontade se combinar um dia completamente com a razão, passaremos a raciocinar em vez de desejar, justamente porque não podemos, por exemplo, conservando o uso da razão, querer algo desprovido de sentido e, deste modo, ir conscientemente contra a razão e desejar aquilo que é nocivo a nós próprios..."


📖 "A razão, meus senhores, é coisa boa, não há dúvida, mas razão é só razão e satisfaz apenas a capacidade racional do homem, enquanto o ato de querer constitui a manifestação de toda a vida, isto é, de toda a vida humana, com a razão e com todo o coçar-se."


📖 "E este será o fim da sua memória sobre a terra; os túmulos de outra gente são visitados por filhos, pais, maridos; mas você não terá uma lágrima, um suspiro, uma lembrança, e ninguém, absolutamente ninguém, em todo o mundo, irá visitá-la; o seu nome desaparecerá da face da terra, como se você nunca tivesse existido, como se não tivesse nascido! A lama, o pântano, nem que você bata na tampa do caixão, na hora em que os defuntos se levantam: "Deixai-me, boa gente, vou viver um pouco no mundo! Vivi, mas não vi a vida: a minha perdeu-se por um nada; gastaram-na bebendo num botequim da Siênaia; deixai-me, boa gente, ir mais uma vez viver no mundo!..."


📖 "Em primeiro lugar, eu não podia mais apaixonar-me, porque, repito, amar significava para mim tiranizar e dominar moralmente. Durante toda a vida, eu não podia sequer conceber em meu íntimo outro amor, e cheguei a tal ponto que, agora, chego a pensar por vezes que o amor consiste justamente no direito que o objeto amado voluntariamente nos concede de exercer tirania sobre ele. Mesmo nos meus devaneios subterrâneos, nunca pude conceber o amor senão como uma luta: começava sempre pelo ódio e terminava pela subjugação moral; depois não podia sequer imaginar o que fazer com o objeto subjugado."


📖 "Queria tranquilidade, ficar sozinho no subsolo. A vida viva, por falta de hábito, comprimira-me tanto que era até difícil respirar."


📖 "O que é melhor, uma felicidade barata ou um sofrimento elevado?"


📖 "Porque todos nós estávamos desacostumados da vida, todos capengamos, uns mais, outros menos. Desacostumamo-nos mesmo a tal ponto que sentimos por vezes certa repulsa pela "vida viva", e achamos intolerável que alguém a lembre a nós. Chegamos tal ponto que a "vida viva" autêntica é considerada por nós quase um trabalho, um emprego, e todos concordamos no íntimo que seguir os livros é melhor. E por que nos agitamos às vezes, por que fazemos extravagâncias? O que pedimos? Nós mesmos não o sabemos."


📖 "Deixai-nos sozinhos, sem um livro, e imediatamente ficaremos confusos, vamos perder-nos; não saberemos a quem aderir, a quem nos ater, o que amar e o que odiar, o que respeitar e o que desprezar. Para nós é pesado, até, ser gente, gente com corpo e sangue autênticos, próprios; temos vergonha disso, consideramos tal fato um opróbrio e procuramos ser uns homens gerais que nunca existiram. Somos natimortos, já que não nascemos de pais vivos, e isto nos agrada cada vez mais. Em breve, inventaremos algum modo de nascer de uma ideia."


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