RESENHA: MW - Osamu Tezuka


          Osamu Tezuka dispensa apresentações. O "Deus do Mangá", como é mundialmente conhecido, revolucionou a nona arte e também o mundo dos animes. Autor de clássicos como "Astro Boy" e "Dororo", empresta seu nome ao maior prêmio quadrinístico do Japão. Nos anos 70 já era um mangaká consagrado quando decidiu se reinventar, concebendo então a sua obra mais sombria. Publicado originalmente na revista Big Comic entre 1976 e 1978, "MW" marca o ponto de virada na carreira de Tezuka. Aqui o autor rompe completamente com suas raízes e com o teor infantojuvenil, entregando uma polêmica e corajosa obra de cunho político, repleta de crítica social, e que vai lidar com diversos tabus dentro da sociedade japonesa e tocar em temas espinhosos.

          Na trama iremos conhecer dois protagonistas: Yuuki, um jovem e bem-sucedido funcionário de um grande banco; e Garai, um padre com sua fé em crise. Sob sigilo, os dois vivem um relacionamento homoafetivo. Mas esse está longe de ser o único segredo guardado a sete chaves pela dupla. Por trás da máscara de cidadão exemplar de Yuuki se esconde um psicopata da pior estirpe. Roubo, sequestro, tortura, assassinato, estupro, terrorismo... Sua lista de crimes é extensa e hedionda e ele não medirá escrúpulos para conseguir aquilo que almeja. Mas teria a sua perversidade origem em um acontecimento traumático de quinze anos atrás? Ou seria a maldade inata a certos seres humanos? Essa talvez seja a questão central da obra, mas não a única!



          Com uma narrativa ágil e repleta de ação, "MW" traz sentimos conflitantes ao leitor. Ao mesmo tempo em que provoca desconforto, é simplesmente impossível parar de ler! Os capítulos sempre fecham com bons ganchos e vemos Yuuki se tornando cada vez mais sádico, enquanto o padre Garai, carregado de culpa, tem sua fé testada com o passar das páginas. A arte mescla personagens caricatos e cenários realistas. O roteiro consegue prender, embora em alguns momentos Tezuka abuse um pouquinho das saídas fáceis. Também achei que o final poderia ter sido melhor trabalhado. Mas essa é mais uma daquelas histórias em que o desenvolvimento é mais interessante que a conclusão em si. É um mangá que desce até o mais baixo grau da sordidez humana, tanto de uma perspectiva mais intimista quanto mais abrangente, quando, por exemplo, entra no campo das maquinações políticas e corrupção das grandes instituições.

          Nas palavras do próprio autor: "Criei esta história porque queria romper com o convencional estilo Tezuka e escrever um drama picaresco daqueles de deixar leitores boquiabertos. Queria abordar toda espécie de mal da sociedade - a violência, a traição, o estupro, a luxúria, as pessoas sem opinião própria e influenciáveis, os ineptos e indiferentes... Queria abordar, principalmente, o mal da política como sendo a maior de todas as perversões." Como resultado temos uma obra polêmica, densa, incômoda e obscura. Não é de se admirar que tenha causado furor no Japão dos anos 70 e que ainda hoje conserve o seu poder de chocar. Quanto a edição do PN, "MW" segue o padrão de qualidade da editora. Apesar de ser um mangá volumoso (são quase 600 páginas!), a lombada colada e costurada proporciona todo o conforto e faz a diferença na hora da leitura. A edição ainda acompanha uma bela sobrecapa e marcador de páginas.









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