RESENHA: A Velha Nova York - Edith Wharton

          Primeira mulher a vencer o Prêmio Pulitzer de Ficção, Edith Wharton possui, entre contos, romances e poemas, uma extensa obra literária, sendo a maior parte dela escrita após o fim do conturbado casamento com Edward Robbins. "A Velha Nova York" reúne quatro novelas escritas naquele que é conhecido como o período mais efervescente de sua carreira. São histórias marcadas por um realismo visceral e que contrapõem o teor dos romances mais açucarados de sua época. Fortes personagens femininas, ácidas críticas sociais e um sarcasmo pra lá de afiado dão o tom por aqui.

          O volume abre com "Falso amanhecer", onde vamos acompanhar um jovem que roda o mundo com o objetivo de coletar renomadas obras de arte para abastecer a galeria de sua nobre família. Como resultado temos um desentendimento entre pai e filho, que vai esbarrar em temas como o conflito de gerações, a prostração da aristocracia e o papel da arte em nossas vidas. No clássico "A solteirona" temos o desenrolar de um complexo drama familiar envolvendo duas primas e uma bebê enjeitada. Vida conjugal, maternidade, amadurecimento e o papel da mulher na sociedade são discutidos aqui. "A faísca" é uma narrativa mais misteriosa, e até melancólica, que gira em torno de uma relação extraconjugal e traz á tona as hipocrisias da alta sociedade. Por fim, temos "Dia de Ano-Novo". Aqui, o incêndio de um hotel acaba por desmascarar um suposto caso de traição. É mais um conto que levanta questionamentos sobre o casamento e sonda as profundezas do coração feminino.

          Não bastasse os bons plots e a importância dos temas discutidos, a escrita de Wharton é um show à parte. Com uma ironia cáustica, a autora destila seu veneno em doses sutis, mas letais, e samba na cara da alta sociedade. Apesar de direcionadas para a sociedade novaiorquina da virada do século XIX para o XX, suas críticas podem ser facilmente trazidas para o nosso contexto e conversam, e muito, com a sociedade em que vivemos: preconceituosa, conservadora e repleta de falso moralismo, tudo encoberto pela tênue máscara de "defensora dos bons costumes". Com certeza voltarei a ler a autora e recomendo!

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