RESENHA: Museu - Chabouté


          Mais recente trabalho do quadrinista francês Chabouté, "Museu" chega ao Brasil pelas mãos da editora Pipoca & Nanquim, dessa vez em lançamento praticamente simultâneo com o país de origem. O álbum nos leva para dentro do Museu d'Orsay, em Paris, onde vamos acompanhar o dia a dia de curiosos visitantes em meio a famosas obras de arte. Porém, esse museu guarda um segredo singular: ao cair da noite, as esculturas e quadros expostos ganham vida! Embebida de sensibilidade e com um humor típico francês, a obra nos convida a uma reflexão sobre o papel da arte em nossas vidas e o que estamos fazendo aqui.

          A história não traz um protagonista (a não ser o próprio museu) e através de subtramas que exploram a relação entre a vida e a arte compõe um intricado leque de dilemas que permeiam a existência humana. Aqui, tanto os visitantes são alterados pelo contato com a arte, quanto as próprias obras de arte são alteradas pelo contato com humanos. Enquanto perambulam à noite pelo museu, as figuras de Anacreonte, Narciso, Garnier, Perseu, Héracles e outros ecoam muitas de nossas angústias, anseios e inquietações, dotando a obra de questões existencialistas.


          É também um álbum que conversa muito com os dias atuais. Em tempos de redes sociais, onde tudo é descartável e efêmero, e recebemos mais estímulos do que conseguimos processar, onde fica o espaço para a arte? Será que estamos perdendo a capacidade de nos comover, inspirar ou deixar se provocar diante de uma pintura, escultura, música, peça de teatro ou o que for? Muitas vezes parece que hesitamos diante de uma obra mais longa ou densa, ou que exija o mínimo esforço de interpretação. Quanto mais "mastigado" vier o conteúdo, melhor. O importante é consumir o máximo possível no mínimo espaço de tempo. Mas, a longo prazo, qual é o preço que pagamos por isso? Será que estamos deixando algo pelo caminho?

          Vejo o álbum de Chabouté como uma crítica à forma como consumimos arte atualmente e um convite a repensar algumas coisas. É uma leitura que comove, bota pra refletir e reaviva a importância da arte em nossas vidas. Afinal, há momentos nos quais só ela é capaz de nos levantar, de nos fazer compreender certas coisas e de nos tirar da própria perspectiva. Mas, para isso, é preciso que exercitemos a capacidade de deixá-la ecoar em nós, o que exige tempo de maturação e não consumo desenfreado. Essas e outras reflexões surgirão ao longo da leitura, que com tão poucos balões (a maior parte da narrativa se dá através de desenhos) diz tanto.







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