RESENHA: Gatilho - Pedro Mauro & Carlos Estefan


          Fenômeno do quadrinho nacional, a trilogia Gatilho, publicada originalmente de forma independente entre 2017 e 2019, ganhou em 2021 uma edição definitiva pelas mãos da editora Pipoca & Nanquim, dessa vez em cores. A obra, pensada como uma homenagem aos filmes italianos de faroeste dos anos 60 e 70, os famosos westerns spaghetti, rapidamente ganhou o público brasileiro e chamou a atenção para um gênero tido, de forma bastante equivocada, como obsoleto. Com roteiro de Carlos Estefan e arte de Pedro Mauro, o quadrinho narra a busca de um pistoleiro sem nome por justiça. Uma história de vingança, marcada por sangue e violência, e que ecoa por diferentes gerações. Será alguém capaz de dar um basta nesse ciclo de ódio sem fim?

          Como homenagem aos clássicos de faroeste, a obra funciona de forma magistral. A arte de Pedro Mauro dispensa comentários. Com seu traço "sujo" e cores poeirentas, o artista consegue nos transportar facilmente para os cenários áridos que estávamos acostumados a ver nas telas. E o sombrio roteiro de Carlos Estefan não fica atrás. Mesclando momentos de tensão e drama, a narrativa, repleta de reviravoltas e traições, é dotada de um ritmo veloz, sempre nos deixando com aquela ânsia de saber logo que acontecerá na próxima virada de página. Não vou entrar muito em detalhes a respeito do enredo, pois esse é o tipo de quadrinho que faz o leitor vibrar a cada revelação, sendo mais indicado embarcar na leitura sabendo o mínimo possível.


          Bang bang, perseguições à cavalo, autoridades corruptas, tribos selvagens, batalhas em cima de um trem em movimento e o clássico protagonista anti-herói, enfim, todos os elementos que compõem um bom e velho western estão aqui. Em alguns momentos a dupla até abusa um pouquinho dos clichês, confesso, mas não poderia ser de outra forma, já que a proposta da HQ é justamente prestar uma homenagem. Mas a trilogia não se resume a isso. É também uma história de forte cunho psicológico e que vai tratar a forma como lidamos com eventos traumáticos, principalmente dentro do círculo familiar. Por conta disso, é um quadrinho que poderá agradar até mesmo aqueles que não sejam amantes do gênero. E para os fãs de western, é um prato cheio! Minha recomendação final é: apenas vá sem grandes expectativas e ciente da proposta dos autores.

          Além dos volumes "Gatilho", "Legado" e "Redenção", a edição da PN traz uma história inédita em preto e branco, intitulada "A Última Carta", prefácio exclusivo do italiano Gianfranco Manfredi e textos dos autores acerca do processo criativo. Além, é claro, do acabamento de luxo que já é de praxe da editora. Realmente uma edição definitiva pra ninguém botar defeito, como uma obra desse calibre merece.









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