RESENHA: Amor de Perdição - Camilo Castelo Branco


          Clássico da literatura portuguesa, "Amor de Perdição" foi concebido em 1861, durante o período de cárcere do escritor Camilo Castelo Branco, condenado pelo crime de adultério pelo envolvimento com uma mulher casada, a também escritora Ana Plácido. Com claros ares shakespearianos, a obra narra os infortúnios acerca de um amor proibido. De famílias rivais, o fidalgo Simão Botelho e a bela Teresa de Albuquerque apaixonam-se, amor este que cobrará um alto preço e que provocará a derrocada não só dos apaixonados mas também daqueles que os cercam, convergindo em um trágico fim.

          O livro integra o ultrarromantismo e traz todos os ingredientes que são de direito à esta corrente literária. Aqui teremos muito sofrimento, dramas familiares, encontros e desencontros, lágrimas (muitas lágrimas!), conspirações, cartas trocadas na surdina, ameaças de suicídio por não poder estar com o ser amado, etc. Sim, a obra tem os seus excessos, usa e abusa de dramaticidade, mas brilha pelo primor narrativo. É um livro que prende, simplesmente! E claro, não deixa de provocar reflexões sobre as questões do coração, bem como levanta algumas críticas sociais, principalmente direcionadas à fidalguia e ao clericalismo.


          Pra quem já está habituado ao romantismo do século XIX, a leitura pouco trará de novo. Deve-se levar em conta a representatividade da obra dentro contexto da literatura portuguesa, para assim compreender melhor toda a sua importância, além, é claro, dos traços autobiográficos que a mesma guarda com seu autor. Castelo Branco teve uma vida amorosa conturbada, permeada de escândalos e polêmicas. O romance de Simão e Tereza claramente se espelha no de Camilo e Ana, com o autor inclusive tomando pessoas de seu convívio como inspiração para a criação dos personagens secundários. Redigida na Cadeia da Relação em apenas quinze dias, é de se imaginar o furor com que a obra foi concebida, talvez como uma forma de tentar exorcizar aquilo que o escritor trazia no peito.

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