RESENHA: Contos da Era do Jazz - F. Scott Fitzgerald


          Com nova tradução, "Contos da Era do Jazz" chega para integrar a coleção Clássicos da Literatura UNESP. O volume reúne onze narrativas curtas publicadas originalmente em periódicos no início dos anos 20, em um EUA marcado pela extravagância e pela efervescência cultural, onde a economia ia de vento em popa e a vida parecia mais brilhante após o fim da Grande Guerra. Mas será que tudo era tão maravilhoso assim? Ninguém melhor que Fitzgerald para perscrutar o que havia por baixo dessa fina camada de verniz. Alguns anos mais tarde, o autor publicaria aquela que viria a se tornar sua obra-prima e também sua maior crítica ao sonho americano, "O Grande Gatsby", mas aqui já é possível perceber o olhar apurado e as reservas que o renomado escritor tinha para com a sua geração.

              Apesar de trazer clássicos como "O diamante do tamanho do Ritz" e "O curioso caso de Benjamin Button", o primeiro uma crítica voraz ao capitalismo e o segundo uma reflexão sobre o tempo que temos aqui na terra, os contos são, em sua maioria, subestimados. A narrativa curta de Fitzgerald era muitas vezes vista como mero laboratório de experiências ou um meio de levantar alguns trocados de forma rápida para sustentar suas extravagâncias. Embora haja um fundo verdade aí, o mais correto talvez seja dizer que seus contos foram simplesmente ofuscados pelo brilho de seus romances. E claro, escrevia-os para se divertir. Não por acaso, os contos aqui reunidos são dotados de um humor cínico, embora embebidos de melancolia.


          A atmosfera pode ser de glamour e excessos, mas o foco de Fitzgerald está nos personagens desajustados e acometidos de um sentimento de não pertencimento, como é o caso dos protagonistas de "O bon-vivant" e "Primeiro de maio", ambos extraterrenos em seu próprio mundo. Os dramas da vida conjugal também vêm à tona em contos como "A borra da felicidade" e "As costas do camelo", este último inclusive remete muito ao conturbado casamento do próprio autor com Zelda Fitzgerald, uma relação marcada por escândalos e abuso de substâncias. Há também contos mais contemplativos e reflexivos, como o já citado "Benjamin Button" e "Ah, feiticeira ruiva!". E ainda cabem duas peças: "Porcelana e cor-de-rosa" e "Sr. Icky". Além desses, o livro traz outros contos de menor destaque.

          Bela desromantização do período pós-guerra, "Contos da Era do Jazz" é uma leitura gostosa e que intercala momentos de diversão e de melancolia. Adoro a ironia de Fitzgerald e é sempre um prazer voltar a lê-lo. Para aqueles que nunca o leram, acredito que esses contos sejam uma boa porta de entrada para o mundo do autor. A edição da UNESP conta com tradução e notas de Bruno Gambarotto e um sumário com comentários do autor sobre cada uma das narrativas aqui presentes.

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