RESENHA: Ninguém Escreve ao Coronel - Gabriel García Márquez


          Ele lutou por seu país durante a revolução e desde então espera pela pensão prometida pelo governo. Em uma cidadezinha sob as garras da ditadura, o Coronel e sua esposa enferma vivem em meio a miséria. A única herança deixada pelo filho, morto nas mãos dos militares, é um galo de rinha. Longe de ser uma fonte de onde brota dinheiro, a ave está mais para ruína da família, uma vez que o casal se vê obrigado a escolher entre comprar milho para o bicho ou comida para si. Suas derradeiras esperanças estão depositadas na carta de pensão que nunca chega, afinal, "ninguém escreve ao Coronel".

          Mais uma vez, Gabo foi buscar inspiração na vida que o cerca para redigir esta indigesta e comovente novela, publicada originalmente em 1961. O drama tem origem nas agruras da família do próprio escritor, que viu o avô, combatente na Guerra dos Mil Dias, definhar à espera de uma carta que nunca chegou. O relato já é angustiante por si e ganhe ares ainda mais dolorosos quando descobrimos a camada de realismo em suas entranhas.


          A obra evidencia toda a burocracia, falácia, corrupção e descaso das autoridades para com aqueles que necessitam de assistência. Logo, é um livro que conversa em especial com os povos latinos, que tanto sofreram nas mãos de ditaduras e que ainda hoje colhem os frutos podres dessa época. 96 pagininhas de pura emoção, sofrimento e indignação. Só mesmo Gabito, com uma voz tão poderosa e universal, para conceber um drama capaz de captar o espírito dos oprimidos de forma tão precisa e sutil.

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