RESENHA: Reparação - Ian McEwan


          Inglaterra, anos 30. Em meio às tensões da iminente guerra, uma família tradicional inglesa se reúne em sua casa de campo. O encontro é marcado por um calor escaldante, drinques refrescantes, jantares suntuosos, e claro, relações complexas, afinal, toda família tem as suas rachaduras e nem mesmo os Tallis escapam a isso. Caçula da família, Briony encontra-se naquela estranha fase, perdida em algum ponto entre a infância e a adolescência. Incapaz de compreender os meandros da vida adulta e dotada de um egocentrismo exacerbado, busca resposta para tudo em sua fértil imaginação e isso leva a uma série de interpretações equivocadas que desembocam em um trágico desfecho. A partir desse ponto, Briony passará o resto de sua vida tentando reparar o dano que causou. Mas será isso possível?

          Publicado originalmente em 2001, "Reparação" é um drama psicológico que tem como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial. McEwan constrói aqui uma intrincada narrativa na qual os personagens são ricamente trabalhados no campo psicológico, onde muitas vezes teremos um mesmo acontecimento sendo narrado através de diferentes pontos de vista, evidenciando o quanto somos complexos e distintos enquanto humanos. Mas o primor narrativo não fica só por conta disso, é também um livro repleto de ambiguidades e que irá suscitar dúvidas na cabeça do leitor em diversos momentos, sem nunca deixar de prendê-lo. Não sou adepto do "zero spoilers" - acredito que, se um livro é bom, sobreviverá a eles -, mas, neste caso em específico, quanto menos sabemos, mais intrigante se torna a leitura. Por isso, não vou me ater muito a trama aqui.


          O desfecho de "Reparação" é simplesmente arrebatador! Difícil falar sobre, pois é um final que muda completamente a perspectiva sobre TUDO o que foi lido e que nos convida a uma reflexão sobre o poder da literatura e também as suas limitações. Esteticamente, é um livro impecável e um belo exercício de metaficção, ideal pra quem gosta de pensar literatura. A obra angariou inúmeras nomeações para importantes prêmios literários e recorrentemente aparece em listas especializadas de melhores romances do século XXI. Em 2007, ganhou uma aclamada adaptação cinematográfica pelas mãos do diretor britânico Joe Wright, concorrendo a nada menos que sete categorias no Oscar do ano seguinte, das quais infelizmente só levou uma.

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