RESENHA: A Rua das Ilusões Perdidas - John Steinbeck


          Monterey, Califórnia. Época da Grande Depressão. Em uma de suas ruas, repleta de fábricas de enlatados, o cheiro de peixe está impregnado no ar. Essa é Cannery Row. Por ali também vive um curioso grupo de seres humanos. Esse intrincado ecossistema é formado por um chinês avarento, dono da mercearia; Mack e sua gangue, vagabundos de carteirinha; Dora e suas garotas, que tocam o bordel onde os homens da cidade vão para esquecer os problemas (ou arrumar confusão); um biólogo marinho, arauto da ciência nesse fim de mundo (e uma espécie de filósofo nas horas vagas); um pintor que mora em um barco, mas tem medo do mar; e outros espécimes curiosos. Marcada por agruras, privações e violência, a vida dessas pessoas não é nada fácil e é esse árduo e comovente cotidiano que iremos acompanhar neste breve romance.

          Publicada originalmente em 1945, a obra reforça o compromisso do autor com as questões sociais de seu país e ressalta o seu arguto olhar para com os desfavorecidos, características essas que o levaram ao Pulitzer de 1940 e ao Nobel de 1962. O que temos aqui é um verdadeiro drama social, onde veremos personagens solitários, desamparados e desesperançosos, mas também de bom coração e dispostos a ajudar o próximo, seja organizando uma festa com seus parcos recursos ou dividindo um último trago em uma noite fria. Afinal, eles podem ter sido pisoteados pela vida ou se tornado invisíveis para o sistema, mas ainda são humanos. E humanidade salta dessas páginas!


          Steinbeck constrói aqui um intricado microcosmo dos EUA durante a Grande Depressão dos anos 30 e escancara todas as adversidades que o período trouxe para o povo norte-americano. Desemprego, miséria, fome, violência e prostituição, esses são apenas alguns dos males que o autor irá tratar. É um livro duro de ser lido, mas ao mesmo tempo tocante. Sem romantizar em nenhum momento o sofrimento do povo, a obra nos deixa a mensagem de que, sim, em momentos turbulentos as pessoas tendem a se ajudar. Pois somos capazes de perder tudo antes de perder a humanidade, menos, é claro, aqueles que já não a tinham desde o início... E esses, infelizmente, são os que costumam ocupar os altos cargos na nossa sociedade.

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