RESENHA: Sobre Fotografia - Susan Sontag


          Em meados dos anos 70, Susan Sontag se debruçou sobre os problemas estéticos e morais da fotografia para redigir um ensaio intitulado "Na caverna de Platão". Mas, a complexidade do tema, junto à inquietação da autora, acabaram levando-a adiante e o texto deu a luz a outros cinco. Nascia então este volume, publicado originalmente em 1977. Para os desavisados: o livro não é nenhuma ode à fotografia, muito pelo contrário... Logo nas primeiras páginas Sontag irá desromantizar completamente o tema, escancarando a fragilidade das fotos como reveladoras da verdade absoluta e desmistificando o mito de que elas possam reter todo o mundo, embora sejam capazes de transmitir essa sensação.

          Em seu livro, a autora propõe uma reflexão sobre as consequências da onipresença das câmeras em nossa sociedade. Em tempos de fake news e uso desenfreado de redes sociais, seu texto soa um tanto quanto profético e suas críticas não apenas conservaram o gume como envelheceram muito bem, talvez até conversando ainda mais com o contexto atual do que com o de sua época. A banalização da violência, a familiaridade com o hediondo, a perda da sensibilidade diante da superexposição, a alienação política e social, esses são alguns dos pontos abordados pela autora ao longo da leitura.


          Sontag também debate o papel da fotografia enquanto arte. Através da história, vamos conferir como esta, que durante muito tempo foi tratada como uma arte marginal, justamente por ser tão democrática, conquistou seu lugar ao sol, sem abrir mão contudo de suas particularidades. Conceitos de belo e feio, importante e trivial, estético e moral virão à tona. O papel do fotógrafo também é discutido e, na tentativa de entender melhor a relação câmera-fotógrafo, Sontag desbrava caminhos incomuns e não hesita em perscrutar a mente de nomes como Diane Arbus e August Sander. O cinema também não fica de fora. Ao longo da leitura, a autora cita alguns filmes que só fazem aumentar a lista dos amantes da sétima arte. Sontag também usa de escritores e filósofos para exemplificar alguns conceitos que trabalha e, em alguns casos, até mesmo para aproximar a fotografia e seu papel social de outras obras de arte, como faz a certa altura com os romances de Balzac.

          Não foi uma leitura das mais fáceis pra mim, mas acho que parte disso vem da minha parca bagagem do tema fotografia. Por vezes, tive que fazer uma pequena pausa para pesquisar sobre determinado assunto ou referência citada e isso acabava me fazendo perder um pouco o fio da meada. Apesar de discorrer esplendidamente, o raciocínio da autora é um tanto ágil e não achei tão fácil de acompanhar - pelo menos pra mim, que não estou tão familiarizado com ensaios - mas nada que a releitura de alguns trechos não resolvesse. Uma leitura que exige algo do leitor, mas, em contrapartida, também ensina muito e nos convida a um novo olhar não só à respeito da fotografia, mas também da nossa sociedade.

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