RESENHA: Bonzo - C. M. Kushins


          Led Zeppelin dispensa apresentações. A banda é, de longe, uma das minhas favoritas e eu, que já havia lido a biografia escrita por Mick Wall, não pude deixar passar a oportunidade de revisitar sua história, dessa vez de uma perspectiva diferente. A tarefa não era das mais fáceis: escrever sobre a espinha dorsal de uma das maiores bandas que já pisaram sobre a terra, o homem que se alternava entre um pai e um marido carinhoso e uma besta incontrolável quando estava longe de casa, e que também trouxe uma nova abordagem para a bateria dentro do rock 'n' roll, desbravando um caminho que seria seguido por uma legião de bateristas e que ecoaria por gerações. Escrita pelo jornalista C. M. Kushins e publicada originalmente em 2021, a obra chega ao Brasil pelas mãos da editora Belas Letras e permite ao público conhecer mais de perto uma das figuras mais importantes, e também controversas, da música dos anos 70.

          Prefaciado por Dave Grohl, o volume é dividido em quatro partes com títulos bem significativos: "Fagulha", "Incêndio", "Inferno" e "Cinzas". E como entrega o subtítulo, o livro tem como foco o período de Bonham com o Led Zeppelin, ou seja, sua juventude nas Midlands e as nuances de sua criação serão brevemente tratadas aqui, cortando logo para o que interessa: a música. Ávido por novos sons, Bonham não só consumia como absorvia todo tipo de música, do blues ao jazz, passando pelo country e ritmos latinos, ecletismo este que logo se refletiria nas composições do Led. Autodidata, não apenas desenvolveu um estilo único de tocar como promoveu inovações, ainda que improvisadas, no instrumento. Tudo em busca do som perfeito!

          Acreditava que a bateria poderia desempenhar o papel de protagonista em uma banda - nada de ficar relegada aos fundos do palco na reles missão de marcar o ritmo. Nômade, pulava de banda em banda na cena de Black Country, sendo expulso de várias delas por tocar alto demais. O brucutu da bateria encontraria em Jimmy Page aquele que saberia como ninguém captar o seu som e usá-lo a favor da banda, sem impor limitações. Com o Led, não só assumiria o posto como um dos melhores do mundo com as baquetas na mão, como conquistaria seu tão almejado protagonismo, fazendo de "Moby Dick", seu solo de bateria que podia chegar a marca absurda de 30 minutos, um dos momentos de maior êxtase das lendárias apresentações da banda.


          Nas palavras de John Paul Jones, Bonham nunca recebeu os devidos créditos pelas composições do Led Zeppelin e isso fica evidente quando lemos os bastidores das sessões de gravação aqui relatadas. Não foram poucas as vezes em que a dupla Page/Plant trouxe ideias para o estúdio e a abordagem do baterista acabou por levar as composições para um caminho completamente diferente. Bastidores de turnês também serão relatados e é aqui que aparece o lado mais sombrio do baterista. Que as turnês do Led eram cercadas de extravagâncias, isso não é nenhuma novidade. Sem filtros e com a ajuda de managers, Kushins revela os detalhes mais sórdidos.

          Bonham sempre sofreu muito por estar longe da família e acabou encontrando no álcool um alívio para a solidão desesperadora. Mas a cada turnê as coisas se tornavam mais difíceis para o nosso baterista e, conforme os anos 70 avançavam, os abusos de substâncias, os rompantes de fúria e os ataques de pânico foram se tornando cada vez mais frequentes. Os excessos cobraram o seu preço e na manhã de 25 de setembro de 1980 John Bonham foi encontrado morto, engasgado com o próprio vômito depois de ingerir uma quantidade cavalar de vodca na noite passada. "Morte por infortúnio", dizia o boletim. Uma morte estúpida e uma perda irreparável para os fãs, para a música e principalmente para seus familiares.

          O livro de C. M. Kushins ajuda a narrar um dos capítulos mais importantes (e também loucos) dos anos 70. A leitura intercala momentos de descontração e de emoção. Ler e ir ouvindo os álbuns, dessa vez com atenção especial dedicada à bateria, é uma experiência única, daquelas que não queremos ver chegar ao fim. Mas, como tudo que é bom dura pouco, o livro é rapidamente devorado, assim como a meteórica ascensão do Led Zeppelin e assim também como a vida de Bonham, morto aos 32 anos, vítima da fama e do rock 'n' roll em uma de suas mais loucas eras. Mas para sempre em nossos corações e retumbante em nossos ouvidos...

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