RESENHA: Hellboy Omnibus #1 - Sementes da Destruição

          Obra máxima de Mike Mignola, "Hellboy" começou a ser publicado pela Dark Horse em 1994 e não só ganhou outras mídias, como filmes, animações, jogos e livros, conquistando seu lugar dentro da cultura pop, como rendeu ao quadrinista norte-americano importantes premiações, entre elas o cobiçado Eisner. Meu contato até então com o personagem se resumia aos filmes, que, para ser sincero, não me cativaram muito. Porém, sempre tive curiosidade de conhecer a obra original e vi nesse projeto da editora Mythos, que publica a obra completa e de forma cronológica em um formato acessível, a oportunidade perfeita para dar o pontapé inicial na leitura. Com quase 400 páginas, o volume reúne os arcos "Sementes da Destruição" e "O Despertar do Demônio", além de três narrativas curtas: "Os Lobos de Santo Agostinho", "O Caixão Acorrentado" e "Quase um Deus".

          A trama tem início em meio a Segunda Guerra Mundial, quando Hellboy é trazido a este mundo pelas mãos dos nazistas. Abdicando de seu papel de arauto do apocalipse, acaba se aliando ao B.P.D.P., uma espécie de organização secreta especializada em casos sobrenaturais. Ao lado de Abe Sapien, Liz Sherman e Kate Corrigan, Hellboy irá combater forças nefastas que vão desde homem-sapos até criaturas lovecraftianas de tamanho colossal, passando por feiticeiros, lobisomens, vampiros, mortos-vivos e monstros mitológicos. Batalha essa que irá convergir com a conspiração nazista em curso e a origem do próprio Hellboy. Com traços de terror, fantasia, aventura e policial, a narrativa intercala momentos de ação e investigação, temperados com humor. Além de fatos históricos e elementos folclóricos, a obra bebe muito de clássicos do terror gótico, tendo "Drácula" e "Frankenstein" como claras referências. Prato cheio para quem gosta do gênero!

          A arte de Mignola é muito peculiar e no início pode causar certo estranhamento, porém, logo nos acostumamos. Os traços minimalistas e as cores sombrias são fundamentais para criar a atmosfera que a obra pede. Destaque para o contraste entre o vermelho sangue do personagem e os tons frios que o cercam, o efeito é muito convidativo. Vale lembrar que no início dos anos noventa o artista já havia trabalhado com cinema, ilustrando o aclamado "Drácula", de Francis Coppola, então nem preciso dizer o quanto sua arte soa cinematográfica.

          Quanto ao roteiro, Mignola teve a ajuda de ninguém menos que John Byrne em "Sementes da Destruição", algo que talvez tenha faltado em "O Despertar do Demônio" - achei as coisas meio corridas no desfecho desse segundo arco. Acabou que, pra mim, as narrativas curtas se sobressaíram, com "Os Lobos de Santo Agostinho" e "Quase um Deus" roubando a cena; a primeira ambientada em um vilarejo amaldiçoado nos Bálcãs e dando uma cutucada nos dogmas religiosos e a segunda prestando uma homenagem ao clássico de Mary Shelley.

          Degustei o volume aos poucos. Foi um mês de uma leitura prazerosa onde eu ficava esperando as noites de sexta e sábado para poder ler mais tranquilamente. A noite e, às vezes, a chuva, ajudaram a dar uma ambientação bacana e casaram bem com o teor gótico da narrativa. Foi um quadrinho que encarei de forma despretensiosa, com o intuito de me divertir mesmo, e isso acabou sendo bom. Talvez, se tivesse ido com muita sede ao pote, não tivesse gostado tanto. Hellboy acabou me cativando aos poucos e com certeza darei continuidade à saga, afinal, esse foi só o começo e ainda temos muitas pontas soltas... Também estou curioso quanto aos volumes que compilam as "Histórias Curtas", uma vez que o estilo me agradou bastante aqui. A Mythos não para de expandir o universo de Hellboy, trazendo séries derivadas, como o "B.P.D.P." e "Abe Sapien". Bom saber que estou adentro um universo muito rico e com uma boa safra de publicações no Brasil.







Comentários