RESENHA: Júlia, Aventuras de uma Criminóloga #1-3


          Giancarlo Berardi ("Ken Parker") já era um quadrinista consagrado quando, em 1998, criou "Júlia Kendall". Inspirada nos traços da atriz Audrey Hepburn, Júlia é uma criminóloga que vive em Garden City e divide o seu tempo entre dar aulas sobre o assunto na faculdade e ajudar a polícia a solucionar crimes hediondos. Esbanjando carisma e personalidade, Julinha conquistou os leitores e veio a se tornar uma das principais publicações da Bonelli. Seguindo com minhas incursões no catálogo da editora italiana, resolvi dar uma chance... E não me arrependi!

          Os três primeiros números formam um arco de apresentação da personagem. Na trama, mulheres estão sendo brutalmente assassinadas e os traços de sadismo apontam para um potencial serial killer. Júlia está reticente em ajudar, pois conhece bem os custos de se envolver. Mas, as coisas mudam quando alguém do seu círculo é vitimado. Agora, ela irá unir forças com o departamento de polícia de Garden City na tentativa de traçar o perfil psicológico do assassino e desvendar a sua identidade. Mas, para isso, Julia precisará superar suas diferenças com o tenente Webb, bem como lidar com alguns demônios internos.


(nº 1 - arte de Luca Vannini)

          Com nuances de drama e suspense psicológico, essa é uma série policial que vai muito além do thriller e que tem potencial para agradar até mesmo aqueles que nem são fãs do gênero, mas que gostam de boas histórias no geral. Detalhista que só, Berardi fez um curso de criminologia só para escrever "Júlia" e o resultado é uma trama realista e muito bem construída, que mergulha fundo em aspectos psicológicos e detalha amiúde o trabalho desempenhado por um criminólogo: traçar perfil psicológico, estar atento ao modus operandi e investigar a história de vida pregressa de um criminoso.

          A obra foge aos clichês do gênero e o próprio autor brinca com essa ideia ao introduzir no fumetti um background onde uma série de TV sobre a personagem está sendo produzida - essa sim, abusando dos clichês e apelando para um glamour que é inexistente na vida real. A Júlia "de verdade" dorme mal, tem problemas de relacionamento, assuntos familiares mal resolvidos e seu carro está sempre indo para a oficina. Júlia é como todos nós, humana.
 
(nº 2 - arte de Corrado Roi)

          O fumetti já abre com uma cena de assassinato e vai evoluindo em uma escalada de tensão vertiginosa, de acordo com os avanços da investigação. Mas a ação está longe de ser o principal ponto aqui, o maior destaque fica mesmo por conta das nuances investigativas e das motivações por trás dos personagens, construídos com maestria. E eu, que não sou muito de ler o gênero, acabei me vendo não só envolvido pela trama como também cativado pelo carisma da protagonista.

          Foi um bom começo, embora nesses primeiros números Berardi esteja apenas aquecendo os motores. O único porém fica por conta da arte do primeiro volume. Reza a lenda que ao republicar essa edição a Mythos reaproveitou os arquivos do formatinho e, como não poderia ser diferente, a arte ficou estourada. Felizmente, isso foi corrigido nas edições subsequentes e, como o roteiro é bom, dá pra relevar. Mas fica o alerta para o leitor desavisado. Ainda sobre a arte, destaque para o impecável trabalho de Corrado Roi no segundo volume, um verdadeiro deleite para aqueles que apreciam um bom e velho P&B.

(nº 3 - arte de Gustavo Trigo)

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