RESENHA: Iluminuras - Arthur Rimbaud


          Depois de ter lido (e amado) Baudelaire, Rimbaud era um próximo passo bastante óbvio pra mim. Não que eu esperasse por algo parecido, afinal, sua poesia é reconhecidamente transgressora das fórmulas pré-estabelecidas, tendo no poeta das "Flores do Mal" um mestre, mas também aquele que deve ser superado. Publicado originalmente em 1886, "Iluminuras" compila uma série de poemas em prosa, escritos supostamente entre 1873 e 1875 (a data é incerta), quando o poeta estava na primavera dos seus vinte anos. São poemas que rompem em definitivo as fronteiras entre o verso e a prosa e que inauguram um dos principais pilares da poesia moderna, que tomaria de assalto o século XX e influenciaria nomes que vão desde Proust até Patti Smith. Infelizmente, a minha experiência de leitura não foi tão "iluminada" e abaixo explico o porquê.


          A primeira coisa que me chamou a atenção foi que essa é uma poesia muito mais preocupada em evocar imagens do que provocar sentimentos. A experiência de lê-las se aproxima muito mais a de contemplar quadros do que a de ouvir música, que é geralmente a sensação que eu tenho quando leio poesia. O subtítulo "coloured plates" (gravuras coloridas) faz todo sentido aqui. Inclusive, não são poucos os poemas inspirados em telas famosas ou paisagens, sejam de natureza ou de grandes metrópoles, que o inquieto Rimbaud contemplou em suas andanças. O autor também faz uso de muitas alegorias, jogo de palavras, desconstruções do eu lírico, referências literárias, mitos gregos e elementos de alquimia. Tudo isso em busca de uma "nova linguagem".


          Em um livro de poesia é natural que algumas delas nos toquem mais profundamente enquanto outras fiquem "no ar", mas confesso que o segundo grupo dominou quase que completamente a leitura por aqui (nem lendo Blake eu me senti tão no escuro). Os poemas que mais me tocaram foram justamente aqueles que mais se aproximam de Baudelaire, mas mesmo esses foram bem escassos. Não sou a pessoa mais versada em poesia e pode ser que tenha me faltado bagagem para aproveitar melhor a leitura ou talvez esse tipo de poesia simplesmente não seja pra mim. De qualquer forma, pretendo reler a obra em um outro momento, num futuro distante. Afinal, Rimbaud deve ter algo que não consegui captar nesse primeiro contato.

Comentários