RESENHA: A Piscina / Diário de Gravidez / Dormitório - Yoko Ogawa


          Da literatura japonesa contemporânea, Yoko Ogawa é um dos nomes que mais me aprazem. Depois de ter lido o excelente (e estranho) "Museu do Silêncio" e ter sido cativado pelo tratamento que a autora da a temas como a passagem do tempo e a morte, sabia que era só uma questão de tempo até voltar a lê-la. E a oportunidade se deu neste volume recém publicado pela editora Estação Liberdade. A obra compila três novelas publicadas originalmente no início dos anos 90: "A piscina", "Diário de gravidez" e "Dormitório". São histórias que tratam de memórias, a juventude perdida e a efemeridade das nossas relações com tudo aquilo que nos cerca. Abaixo falo um pouco mais sobre cada uma delas.

          Ambientada em um orfanato, "A Piscina" narra uma espécie de amor platônico que Aya, filha dos proprietários, nutre por Jun, um dos órfãos ali acolhidos. Mas essa não é só uma historinha de amor, é mais sobre amadurecimento, a perda da inocência e o despertar da vida adulta. Dividindo a casa (e os pais) com inúmeras outras crianças, Aya tem conceitos não muito bem definidos sobre família e lar, e isso acaba refletindo na sua personalidade, ainda em desenvolvimento. Ou seja, ela não é uma criatura das mais agradáveis. E do seu jeito "torto" vai tentando assimilar os meandros e as decepções da vida adulta. É uma narrativa que capta bem o espírito dessa que é uma das fases mais estranhas e tristes da nossa vida, quando percebemos que nossa primavera ficou pra trás.


          Em "Diário de gravidez" acompanhamos as percepções de uma jovem a respeito da gravidez da irmã. Morando junto com o casal, ela irá discorrer sobre como o bebê por vir afeta o cotidiano dos três e também mergulhar em profundas reflexões sobre a vida conjugal e a maternidade. Mas a gravidez aqui é totalmente desromantizada: a mãe é desprovida de qualquer sentimento materno, o pai é o típico marido banana, a irmã nutre sentimentos bem confusos em relação ao assunto e o ventre em crescimento parece não passar de um estorvo. É um conto que incomoda e provoca estranhamento, até certa repulsa. Em certos momentos me fez lembrar de "Uma Questão Pessoal", do também japonês Kenzaburo Oe.

          Fechando o volume, temos "Dormitório". Novela onde uma mulher ajuda o primo mais novo a se instalar em Tóquio, recomendando ao estudante o dormitório em que morou na sua época de faculdade. Na companhia do jovem, ela retorna ao local que é sinônimo de boas lembranças, mas todas as suas expectativas são quebradas ao encontrar o lugar triste e deteriorado. É uma narrativa melancólica na qual a autora se volta para um dos seus temas corriqueiros: a passagem do tempo e a forma como as coisas e as pessoas são efêmeras. Você até pode retornar a um lugar ou a alguém que te fez feliz, mas pode não encontrar nem rastro dessa felicidade. É só uma coisa que ficou pra trás, nostalgia...


          Com uma escrita fácil e envolvente, este é um livro rápido de ser lido e talvez uma boa porta de entrada para a literatura japonesa. A sensibilidade, a melancolia e o trato diferenciado para assuntos cotidianos são alguns dos traços que marcam a leitura e que apresentam o cartão de visitas dessa arte oriental que é tão distinta. Não digo que as narrativas sejam das mais memoráveis, ainda prefiro os romances da autora, mas têm o seu valor. É um livro muito sucinto, mas não desprovido de provocar reflexões.

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