RESENHA: Vocês Brilham no Escuro - Liliana Colanzi


          Essa foi a minha primeira experiência com a literatura boliviana. Liliana Colanzi é um dos principais nomes da literatura sul-americana contemporânea, premiada com o Aura Estrada (2015) e o Ribera del Duero (2022). Publicado originalmente em 2022, "Vocês Brilham no Escuro" compila seis contos e é resultado de uma série de viagens e oficinas empreendidas pela autora. Concisas, são histórias que mesclam elementos de realismo com ficção especulativa e que tratam de temas como origens e a busca por identidade, tendo como pano de fundo a miséria, a violência e o abandono. Abaixo falo brevemente sobre os contos que mais gostei.

          O primeiro deles se chama "A caverna". Tendo como protagonista uma caverna da região de Oaxaca, no México, o conto narra uma série de acontecimentos que ali se sucederam ao longo de milhares de anos: a mãe que pariu suas crias, a jovem vítima dos ciúmes do namorado, os amantes de povos rivais que se encontravam às escondidas, a visita inesperada de um viajante do futuro e também colônias inteiras de animais e formações rochosas que surgiram e foram extintas ali mesmo. São pequenos eventos que em sua pequenez narram a grandiosidade e a insignificância da existência humana. "Atomito" fala de um grupo de jovens que vive na cidade de El Alto, na Bolívia. Mas essa é uma El Alto distópica: ela é governada com mão de ferro pela Central, há toque de recolher, a polícia é repressora, a mídia tendenciosa e tudo gira em torno da usina nuclear que bafeja sua radioatividade e contamina tudo ao redor.


          Já "O caminho estreito" conta a história de duas irmãs que vivem em um povoado retrógrado e isolado do resto do mundo. Seu líder é um pastor fervoroso e todos devem "andar no caminho estreito de deus". Qualquer contato com o mundo exterior é proibido e as pessoas são submetidas ao uso de uma coleira elétrica que é acionada automaticamente caso se afastem demais. O mínimo deslize e os pecadores podem ir parar nas jaulas. Também vale destacar o conto que da título ao livro. Inspirado no acidente radiológico de Goiânia que aconteceu em 1987 e que ficou conhecido como o caso do Césio-137, o conto narra o drama das pessoas atingidas pela radioatividade, a demora na detecção, o medo e a discriminação em torno delas e o descaso com que o assunto foi tratado.

          No geral, foi uma leitura de altos e baixos pra mim. Alguns contos têm premissas bem interessantes, no entanto senti falta de algo, sabe? A escrita não é das mais cativantes e soou um tanto insípida pra mim em alguns momentos, principalmente no que diz respeito a personagens. Mas isso também pode ser porque venho de uma ótima sequência de livros de contos (Joyce, Krzyzanowski, Borges, etc.). Logo, posso não estar sendo muito justo com a nossa amiga Liliana. De qualquer forma foi uma leitura válida para um primeiro contato com a literatura de um país como a Bolívia. Livros sul-americanos sempre conversam mais intimamente com o nosso contexto! E pra quem busca desbravar essa América Latina contemporânea, a coleção ¡Nosotros! da editora Mundaréu é um prato cheio. Fica aí a recomendação.

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