RESENHA: Dylan Dog #10 - Zed

          Uma viela escura em meio a Londres guarda a entrada para um lugar fantástico. Zed é uma terra utópica, livre das angústias e aflições que impregnam o mundo moderno. É o verdadeiro Paraíso na Terra! Mas sua entrada é vigiada por soldados armados e com ordem para abrir fogo contra qualquer um que se aproxime. A única forma de acessar a área é através de Scout, uma espécie de guia obscuro que leva as pessoas para este "outro mundo" em troca de dinheiro. Mac, atual affair de Dylan Dog, está desaparecida e as investigações apontam que ela foi para Zed. Agora, DyD terá que embarcar para essa terra desconhecida, de onde dizem não haver volta.

          Essa premissa te fez lembrar de algum filme? Afinal, "Dylan Dog" é conhecido pelas inúmeras referências cinematográficas. É isso mesmo, estamos falando aqui de uma das maiores obras do cinema soviético: "Stalker", de Andrei Tarkovski. Mas é importante dizer que o fumetti trilha caminhos bem diferentes do filme, o próprio conceito de Zed sendo bem diverso do que vem a ser a Zona na película. Ainda assim, também há semelhanças, já que ambas as obras tratam de questões existenciais, cada uma à sua maneira.


          "Por que ficar num mundo onde os inocentes acabam na prisão, onde os direitos civis não são respeitados, onde o dinheiro manda? Num mundo de discriminações, de injustiças, de racismo! Um mundo onde os únicos ideais que restam são o consumismo e a indiferença!" Esses são apenas alguns dos motivos apontados por uma personagem como o suficiente para deixar esse mundo pra trás e comprar sua passagem só de ida para Zed. A verdade é que o mundo se tornou hostil e deprimente demais, a realidade se tornou insuportável e muitos não querem mais fazer parte disso. Motivos estes críveis o bastante para conectá-los com a nossa realidade, não?

          Há várias interpretações possíveis para Zed (e se você buscar por respostas definitivas pode se decepcionar, pois o fumetti pouco entrega no quesito explicações), mas uma coisa é inegável: as pessoas estão indo à Zed para fugir da realidade. Uma possiblidade, e essa é a minha teoria, é a de que Zed talvez seja uma camada oculta da nossa própria consciência. O mundo tá uma merda insuportável e todos nós precisamos da nossa dose diária de Zed para continuar. Álcool? Sexo? Religião? TV? Arte? Pode ser qualquer coisa... Mas a questão é: como saber qual a dosagem correta? Ao mesmo tempo em que são essenciais para renovar as nossas esperanças e forças vitais, essas "Zeds interiores" são capazes de nos engolir, nos trancando em uma prisão interna criada por nós mesmos e da qual jogamos a chave fora. Sem contar que todo esse mundinho interno pode se tornar bem instável às vezes, assim como Zed pode ser imprevisível. Afinal, a utopia parece mesmo inalcançável...


          Com roteiro de Tiziano Sclavi e desenhos de Bruno Brindisi, este é um fumetti capaz de provocar profundas reflexões (não se deixe enganar pela capa, que pode fazer com que a história pareça bobinha). Temos aqui um Dylan Dog que foge ao terror clássico e que trata dos monstros internos que todos nós temos e que combatemos diariamente. Além, é claro, de transmitir uma importante mensagem sobre fuga da realidade e esperança. Quanto às referências artísticas, elas não param em Tarkovski. Também há ligações com a obra de H. G. Wells e com a música do Guns N' Roses, mais precisamente "Civil War", destacando o apelo social e político que permeia a trama. Historinha rápida e gostosa de se ler, porém bem reflexiva.





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