RESENHA: Noturnos - Kazuo Ishiguro

          Quem me conhece sabe que tenho na música e na literatura duas paixões, e quando essas duas coisas se juntam as chances de eu gostar são bem promissoras. Sendo assim, não pensei duas vezes na hora escolher o meu primeiro Ishiguro, um dos grandes nomes da literatura japonesa que me faltava conhecer. Publicado originalmente em 2009, "Noturnos" reúne cinco narrativas curtas que têm como fio condutor a música. São histórias gostosas de se ler e que trafegam entre a melancolia e o humor, destacando as complexidades das relações humanas e o papel da arte em nossas vidas. Abaixo falo brevemente sobre cada uma delas.

          Com uma bela ambientação nos cafés de Veneza e dotada de um tom melancólico, "Crooner" narra o improvável encontro entre um jovem violinista e um renomado músico americano, estilo Sinatra, que viu seus melhores dias ficarem pra trás. Ambos acabam se envolvendo em uma parceria inusitada que provoca sentimentos completamente opostos ligados a vida pregressa de cada um deles. É um conto que evidencia a forte conexão que as canções podem ter com certos momentos da nossa vida, sejam eles bons ou ruins.

          Em "Chova ou faça sol", um professor visita um casal de amigos dos tempos de faculdade. Mas quando chega ao apartamento do casal, em Londres, encontra os dois mergulhados em uma crise conjugal e é incumbido de uma tarefa no mínimo peculiar. Bem-humorada, é uma narrativa que destaca as dificuldades das relações e também as conexões que só a música é capaz de proporcionar.

 

          Em busca de inspiração, um músico desiludido com a cena de Londres decide passar uma temporada nas montanhas, onde a irmã tem um café. Questões familiares acabam vindo à tona, mas o que deixa o músico intrigado é um casal de turistas que está de passagem pela região. O que será que une pessoas tão distintas quanto o estranho casal? É o que descobriremos em "Malvern Hills".

          Numa tentativa desesperada de alavancar sua carreira, um saxofonista se rende à uma cirurgia plástica em "Noturno". Ao longo do processo de recuperação, seu caminho acaba se cruzando com o de uma celebridade e dessa forma ele conhece o lado mais feio do showbiz. Sarcástica, é uma narrativa que desvela as máscaras e toda a hipocrisia que permeiam os bastidores do meio artístico.

          Fechando o volume, temos "Celistas". Neste conto, iremos acompanhar a tentativa de um jovem violoncelista de se estabelecer fora de seu país mas botando tudo a perder graças aos encantos de uma turista misteriosa. Os dois acabam desenvolvendo uma relação muito peculiar que poderá ter um preço amargo para o nosso pupilo. Essa é mais uma narrativa melancólica e que trata da perda da inocência e o desencanto com a vida adulta.

          Não temos aqui nada que irá reinventar a roda e nem abalar as estruturas. Não se trata de nada genial. Na verdade são histórias bem simples, rápidas e prazerosas de se ler. Assim como a música, são narrativas bem emotivas, repletas de sentimento e que podem tocar diferentes leitores em pontos distintos. Caso tenha uma relação especial com a música, claro que a leitura ganhará um gostinho a mais, aliás, fica aqui a indicação para presentear um músico ou colecionador de discos, enfim, qualquer amante da música. Mas não vá esperando nada excepcional, leia sem grandes expectativas e aproveite. É como ouvir um bom disco para passar o tempo.

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