RESENHA: Blue Note - Mathieu Mariolle & Mikaël Bourgouin

          Nova York, anos 30. Últimos dias da Lei Seca. Mafiosos, trapaceiros, traficantes de bebida, policias corruptos e femme fatales dividem espaço com pessoas quebradas e sonhos despedaçados. Um desses desesperados é Jack Doyle, um ex-lutador de boxe com um passado glorioso, mas que hoje vive na pior e aposta tudo numa volta aos ringues. O outro é R.J., um bluesman que sonha em gravar um disco e assim levar sua música ao maior número de pessoas possível, mesmo que para isso tenha que se envolver com gente da pior laia. Eles não sabem, mas, nessa cidade desgraçada e prestes a ruir, seus caminhos estão entrelaçados.

          Duas coisas chamam a atenção aqui. A primeira delas é a narrativa. O quadrinho é dividido em duas partes, sendo a primeira delas centrada em Jack Doyle e a segunda em R.J., e ambas compartilham do mesmo espaço de tempo e local. É como se a protagonista fosse a cidade de Nova York e o que lemos são duas linhas narrativas de uma mesma história. Mariolle amarrou o roteiro redondinho e tudo flui perfeitamente. Músico e boxeador não se interagem diretamente, mas suas trajetórias se complementam linda e tragicamente.


          O segundo ponto que chama a atenção é a ambientação e aqui nós precisamos falar sobre a arte de Bourgouin. Seus desenhos conseguem nos transportar para a NY dos anos 30, retratando fielmente toda a atmosfera daquela época, carregada de ruas escuras, letreiros em neon, fumaça de cigarros e clubes de jazz. O resultado não deixa nada a desejar para os clássicos do cinema noir. Mas não para por aí, o francês ainda lança mão de alguns recursos interessantes, como a paleta de cores diferenciada: amarelo quente para o que acontece em torno de Doyle e azul frio para R.J. Além disso, quando este último toca o seu blues, uma espécie de aquarela ganha as páginas, dando um efeito meio psicodélico que eu adorei.

          Com doses de drama, tensão, suspense, ação e melancolia, "Blue Note" é um quadrinho muito bem executado dentro do que se propõe. Se você curte filmes noir, jazz/blues, tem interesse por esse capítulo da história norte-americana ou simplesmente gosta de boas histórias, pode ir sem medo. A obra também é um deleite para aqueles que gostam de boa arte, o tamanho "gigante" 31x24 favorece muito esse lado e facilita a apreciação. O álbum faz parte do saudoso selo Gold Edition da Mythos e recebe o acabamento de luxo que lhe é devido.







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