A ano é 2120 e o mundo atravessa uma profunda crise de armazenamento de dados. Basicamente, está faltando espaço. E para que as pessoas possam continuar alimentando suas redes sociais e consumindo conteúdo insosso, algo precisa ser apagado. Os arquivos a serem destruídos são definidos pelo algoritmo e cabe aos arquivistas tentar defendê-los perante os "juízes", êxito quase nunca alcançado. Yves é um desses arquivistas e não aguenta mais ver obras como "2001: Uma Odisseia no Espaço" ou a poesia de Auden sendo excluídas da face da terra. Não bastasse isso, nosso protagonista também se vê preso a um casamento infeliz, onde o robô da família parece aos poucos assumir o lugar da esposa, inclusive carregando no ventre a filha do casal, ecoando os dilemas do amor líquido em tempos modernos.
Primeira HQ do francês Ugo Bienvenu a ser publicada no Brasil, "Preferência do Sistema" bebe da fonte dos grandes clássicos da ficção científica, principalmente "Fahrenheit 451" (Ray Bradbury) e "Eu Robô" (Isaac Asimov), embora dotada de um toque mais contemporâneo. É um quadrinho que conversa muito com o nosso contexto e que chega em um momento oportuno, onde a inteligência artificial começa a ganhar força e inflamar debates. Transitando em algum lugar entre o poético e o sarcástico, a trama esbarra em temas como o uso desenfreado das tecnologias, a banalização da arte, alienação, excesso de informação e relacionamentos rasos. A premissa é ótima e é conduzida com maestria... pelo menos até a metade.
Comentários
Postar um comentário