RESENHA: Mister No Especial #3 - O Rei do Sertão

          Mister No é o mais brasileiro dos personagens Bonelli. Criado em meados dos anos 70 por Sergio Bonelli sob o pseudônimo de Guido Nolitta, o personagem é um ex-combatente dos EUA que lutou na Segunda Guerra Mundial e se refugiou no Brasil, mais precisamente na Floresta Amazônica, onde grande parte de suas histórias são ambientadas. O personagem já saiu por diversas editoras por aqui e mais recentemente tem recebido um cuidado especial da Editora 85, que publica os especiais e também os almanaques, tudo com o esmero que é de praxe da editora.

          Os especiais trazem histórias fechadas e para o meu primeiro contato com o personagem escolhi o de número três, que traz a aventura "O Rei do Sertão", publicada originalmente na Itália em 1988. Na trama, Mister No vai à Bahia, onde encontra uma velha e seduzente conhecida, Miranda. Mas este está longe de ser o reencontro caloroso que nosso protagonista espera. O ex-combatente acaba sendo arrastado para uma intriga que envolve o roubo da cabeça de ninguém menos que Lampião e uma organização separatista e reacionária, liderada pelo coronel Guimarães. É uma história que dosa muito bem aventura, adrenalina, intriga política e contexto histórico.


          Também chama a atenção a riqueza na ambientação. E não falo só dos cenários (o Pelourinho, o Porto de Santa Maria, a flora e a fauna brasileiras quando o personagem se desloca pelo nordeste, tudo é belamente retratado aqui), mas, mais que isso, o roteirista também conseguiu captar muito do espírito brasileiro. Além dos costumes, o quadrinho mostra a corrupção nos mais diferentes níveis, a manipulação das massas e a asfixia social. Um exemplo claro disso é a própria cabeça de Lampião, que aqui é usada como símbolo para fins políticos e até religiosos. São tantas pessoas atrás do fatídico resto mortal, e com mais diversos objetivos, que a certa altura Mister No questiona: afinal quem foi Lampião? Apenas um criminoso louco? Um líder reacionário? Um revolucionário defensor dos pobres? Uma espécie de santo? Por fim, é uma aventura que acaba despertando essa mesma curiosidade no leitor, incentivando-o a ir mais a fundo no assunto.



          Confesso que me surpreendi bastante com o fumetti. Fui esperando algo mais aventuresco e acabei me deparando com intriga política, contexto histórico e uma ambientação ímpar. Destaque também para os desenhos de Roberto Diso, principalmente no já mencionado cuidado em retratar dos cenários brasileiros. Também não poderia deixar de falar do trabalho da editora 85, sempre muito elogiada entre os leitores de Bonelli, e que agora pude atestar. Sem dúvida voltarei a ler Mister No, um dos mais carismáticos personagens da casa editorial italiana, pelo menos a meu ver.


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