Em um mundo pós-apocalíptico, pai e filho caminham rumo ao sul cruzando um EUA devastado e coberto de cinzas. O sol se apagou e um frio cortante cobre a Terra, o ar é pútrido, falta comida e a esperança se foi há muito. O mundo como costumávamos conhecer ficou pra trás, até mesmo as lembranças e certas palavras perderam completamente o sentido e vão sendo aos poucos esquecidas, para nunca mais retornar. Tudo que eles têm é um carrinho de supermercado onde carregam seus parcos pertences e um revólver com poucas balas. Mas eles também têm um ao outro, e isso talvez seja o mais importante.
O que está em foco aqui não são os eventos que levaram o mundo a ruir (até porque o autor da pouquíssimas pistas quanto a isso, embora não seja difícil de imaginar), mas em como a sociedade se comportaria em situações extremas. Junto com o mundo, qualquer forma de governo ou de organização social foi para o ralo, e o ser humano, de repente, se viu livre de qualquer escrúpulo ou amarra moral. Para sobreviver nesse mundo caótico, não basta a sorte de encontrar comida e água, é preciso também se defender dos saqueadores, assassinos e estupradores que impregnam as estradas. O ser humano é o monstro dessa história e McCarthy usa isso muito bem, dotando a narrativa de ares quase que de horror, sem recorrer a elementos sobrenaturais.
Mas essa também é uma história comovente e que, repleta e diálogos marcantes, explora a relação entre pai e filho de uma forma muito bonita, contrastando-a com todo o caos à sua volta. Em uma outra camada, a estrada do livro também pode ser vista como uma analogia para a vida. Em diversos momentos ao longo da leitura, fiz essa brincadeira de trocar a palavra "estrada" por "vida" e via que se encaixava perfeitamente, afinal, em nossa jornada também temos que lidar com medo, solidão, incerteza, dor e arrependimentos... Enfim, o horror da vida.
O livro tem aquela escrita visceral e cortante que é tão característica do autor, mas é privado de grandes acontecimentos, bem como de qualquer explicação para os eventos que levaram ao apocalipse. É simplesmente um pai e seu filho caminhando pela estrada em busca de suprimentos e lutando por sua sobrevivência. O mundo pós-apocalíptico nada mais é que um mero pano de fundo para que McCarthy possa desnudar a condição humana e meditar sobre a esperança e o amor incondicional em tempos sombrios.
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