Tsukuru Tazaki é um homem de trinta e poucos anos que leva uma vida solitária em Tóquio. À primeira vista, sua vida parece estar ir de vento em popa: ganhou uma herança do pai, se formou na área de interesse e trabalha com aquilo que gosta, na horas vagas pratica natação e lê bons livros. Mas abaixo dessa fina camada de normalidade paira um vazio desolador e sua origem pode estar ligada a um acontecimento de sua juventude: o fatídico dia em que quatro de seus amigos inseparáveis o chutaram do grupo, sem mais nem menos. A ideia para investigar seu passado parte de sua namorada atual, que logo identifica em Tsukuru o que parece um bloqueio emocional que o impede de se relacionar mais profundamente. Nosso protagonista parte então em busca de respostas, não só para entender o que aconteceu anos atrás, mas também para descobrir a si mesmo. Essa é uma jornada de autoconhecimento e busca por identidade, tema recorrente na obra de Murakami.
Confesso que essa foi uma leitura de altos e baixos para mim. O livro tem umas passagens muito boas e que refletem temas como amadurecimento, relacionamentos, amizade, sexo e morte, mas possui certas superficialidades. Não sei dizer se eu entendi muito bem o protagonista. Em alguns momentos eu quase me identificava com ele, mas logo ele tomava uma atitude ou revelava uma camada que eu não compreendia muito bem e isso acabou atrapalhando um pouco a minha conexão com seus dilemas. Acho que Murakami foi mais assertivo ao retratar esse mesmo tipo de personagem em obras como "Norwegian Wood" e "Kafka à beira-mar". Não que o livro seja ruim, (devorei ele em praticamente uma única manhã de domingo, já que a escrita é gostosa), mas ao finalizar a leitura senti que já tinha visto esses mesmos temas melhores trabalhados anteriormente. Por ser um romance mais tardio do autor, esperava mais desenvolvimento.
Por outro lado, essa pode ser uma boa porta de entrada para conhecer Murakami, afinal, todas as suas características mais marcantes estão aqui: a melancolia típica, o pano de fundo musical, as referências a cultura pop, o tratamento de temas como sexualidade e solidão, aquele leve toque de realismo fantástico e o simbolismo, sendo este último talvez o que mais brilhe aqui (destaque para a paixão e a obsessão de Tsukuru por estações de trem, local de onde as pessoas estão sempre partindo ou chegando - como na nossa vida?). Enfim, é um livro que mesmo devendo um pouco em profundidade é propenso a mergulhar o leitor em reflexões e isso sempre faz a leitura valer a pena.
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