RESENHA: Morgan Lost #1

          "Morgan Lost" é uma série contemporânea da Sergio Bonelli Editore, criada em 2015 por ninguém menos que Claudio Chiaverotti (aquele mesmo de "Dylan Dog"). O fumetti nos apresenta um mundo distópico onde o sol parece ter se eclipsado, as pessoas trabalham exaustivamente e as relações humanas foram quase que extintas. Em Heliópolis, cidade governada por uma estranha organização chamada Templo da Burocracia e ricamente adornada com uma arquitetura que remete ao Antigo Egito, a violência impera. Infestada de serial killers, surgiu ali um estranho comércio de caçadores de recompensas: gente que se especializou em caçar assassinos em troca de dinheiro. E Morgan Lost é um desses profissionais.

          Esse primeiro volume da Editora 85 traz duas aventuras que formam uma espécie de arco de apresentação do personagem: "O homem da última noite" e "Não me deixe". Aqui, nós iremos conhecer as motivações e um pouco do passado de Morgan. Por que ele se tornou um caçador de serial killers? Por que ele traz essa estranha marca em volta dos olhos? E por que ele é assombrado por pesadelos? Tudo isso será respondido ao longo da leitura, que se assemelha a um thriller e intercala momentos de terror psicológico, drama, suspense, sensualidade e violência explícita. Destaque também para o mergulho na psicologia humana que a série proporciona.

          Mas há outros dois pontos que não podem passar batidos aqui. O primeiro deles é a concepção de mundo. Ao que parece, o tempo de trabalho em "Dylan Dog" serviu como inspiração e Chiaverotti conseguiu criar uma atmosfera de pesadelo muito própria, tomando emprestado algumas referências de scifi, saídas direto de filmes como "Blade Runner" e "Metropolis". A questão política também me pareceu muito intrigante, sugerindo haver manipulação da história e também a atuação de uma polícia secreta que remete à KGB. Sem dúvida uma concepção de mundo que precisará de mais volumes para se desenvolver, mas que já soa promissora ao primeiro contato.

          O segundo ponto que gostaria de destacar é a arte. Morgan é daltônico e enxerga tudo em tons de cinza e vermelho. Essa nuance foi trazida para a arte, que apresenta exatamente a mesma paleta de cores e o resultado é deslumbrante, reforçando a já mencionada atmosfera de pesadelo e também dotando a obra de um tom noir. E tudo isso é favorecido pela imponente arquitetura de Heliópolis com seus obscuros temas egípcios. Os desenhos ficaram excepcionais tanto na arte de Michele Rubini quanto na de Giovanni Talami, que desenham a primeira e a segunda história, respectivamente.

          "Morgan Lost" se revelou uma das séries mais intrigantes da Bonelli, pra mim. A concepção de mundo, a arte, o roteiro e as discussões que Chiaverotti levanta sobre sociedade, relações humanas e psicologia, tudo isso me cativou e me deixou ávido pelo próximo volume, até porque a série possui um senso de continuidade e deixou algumas pontas soltas aqui, algo que sem dúvida será melhor trabalhado mais pra frente. Enfim, mais um Bonelli pra conta e mais uma ótima série iniciada.

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