RESENHA: Dylan Dog Omnibus #1 - O Despertar dos Mortos-Vivos

          Dylan Dog é, de longe, o meu personagem favorito da casa italiana Bonelli. E esse, meus amigos, é um momento mágico para os fãs do "investigador do pesadelo" no Brasil. Isso porque a Mythos iniciou a republicação de suas histórias em ordem cronológica e no melhor formato omnibus (na minha opinião), isto é: em capa cartão, com orelhas, miolo em preto e branco e em compilados de seis histórias cada um, fazendo deste um quadrinho mais acessível e de confortável manuseio na hora da leitura. Não sou de rasgar seda para editora, mas dessa vez tenho que confessar que a Mythos acertou. Esse nº1 reúne as seis primeiras mensais do personagem, publicadas originalmente nos anos 80, na Itália. Abaixo falo um pouquinho mais sobre cada uma dessas aventuras.

          Iniciamos a saga de Dylan Dog com "O despertar dos mortos-vivos", uma história de zumbis com ares de "Frankeinsten" e que aborda a tentativa humana de derrotar a morte. Essa é uma narrativa que já chega com o pé na porta e mostra todas as credenciais que farão parte da série: o humor ácido, a sensualidade caliente, o clima noir, as inúmeras referências à cultura pop e as reflexões acerca da existência humana, afinal, Dylan Dog é sobre isso e nunca somente o terror pelo terror. De quebra, nessa aventura ainda iremos conhecer um dos arquivais do investigador do pesadelo. O roteiro, assim como as demais histórias que compõem o volume, é de Tiziano Sclavi e a arte é de Angelo Stano.

          Em "Jack, o estripador", o espírito do famoso serial killer é supostamente invocado durante uma sessão espírita. Depois disso, mulheres passam a ser perseguidas e assassinadas numa Londres soturna. Estaria o assassino em série, perturbado no seu sono eterno, de volta à ativa? Essa é uma aventura que não se limita ao campo do sobrenatural e que coloca em evidência a loucura e a cobiça humanas. Os desenhos aqui ficam a cargo do argentino Gustavo Trigo.


          "As noites da lua cheia" traz o mito do lobisomem reimaginado por Tiziano Sclavi. Na trama, DyD e seu parceiro Groucho vão à Alemanha investigar o sumiço de uma jovem. Chegando lá, eles se deparam com um estranho colégio feminino cercado por uma floresta sombria que guarda segredos obscuros. Uma aventura envolvente e repleta de mistério, onde brilha a arte da dupla Giuseppe Montanari e Ernesto Grassani.

          Talvez a minha história favorita (e também a mais pesada) desse compilado, "O fantasma de Anna Never" aborda a devastadora dependência química do álcool. Aqui, um velho amigo de Dyd está tentando retomar a carreira de ator após supostamente tratar o seu alcoolismo, mas o paciente começa a ser atormentado por estranhos pesadelos que parecem quebrar as barreiras entre o mundo dos sonhos e a realidade. A narrativa é angustiante e mostra, de forma nua e crua, a incrível capacidade de destruição que um vício possui. Como já mencionei, Dylan Dog não é sobre o terror sobrenatural, mas sobre a condição humana e o horror da vida, e essa história deixa isso bem evidente. A arte aqui é assinada por Corrado Roi.



          Em "Os matadores" pessoas aparentemente pacatas estão tendo o seu dia de fúria e um estranho sujeito bate à porta de Dylan Dog afirmando ter detectado um pico de maldade presente na atmosfera de Londres. Dyd inicia a investigação de forma cética, mas revelações apontam para um possível plano nefasto em curso. Por trás dessa onda de ódio, se escondem interesses políticos e financeiros que ecoam os dilemas e a disputa de poder do mundo atual. Uma trama bem intrigante, intensa e repleta de violência, ricamente detalhada nos desenhos de Luca Dell'uomo.

          Fechando o volume, temos "A beleza do demônio". História clássica que retrata como a perversidade está presente em nossa sociedade e de inúmeras formas, muito além daquela clássica imagem do diabo como o imaginamos e a quem costumamos culpar pelas consequências de nossos atos. É também uma história de amor, embora não convencional, com aquela pitada de sobrenatural e que reserva um belo de um plot twist a certa altura da narrativa. Aventura com aquela clássica pegada dylandoguiana e que conta com os traços de Gustavo Trigo.



          O omnibus configura uma ótima porta de entrada para aqueles que desejam conhecer o personagem e também uma oportunidade única, e um grato presente, para aqueles que já são fãs do "investigador do pesadelo". O único contra da edição é que as páginas trazem certa transparência, mas nada que atrapalhe muito a leitura. O volume ainda é ornamentado por uma galeria de capas originais esplendidamente ilustradas por ninguém menos que Claudio Villa, todas coloridas e em papel couchê. Em suma, trata-se de uma coleção que tem tudo para ir longe e conquistar novos leitores. Que venha logo o próximo volume!

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