RESENHA: O Combate Cotidiano - Manu Larcenet

          Manu Larcenet é simplesmente o autor de uma das minhas obras favoritas dentro do universo dos quadrinhos ("O Relatório de Brodeck"), então é claro que as minhas expectativas eram bastante altas para essa leitura. Se atingiu as expectativas? Não sei dizer. Fato é que me deparei com um quadrinho bem diverso aqui. Em "O Combate Cotidiano" nós iremos acompanhar a trajetória de Marco, um fotógrafo cansado de documentar os horrores da guerra e que decide tirar um tempo pra si, se mudando pra uma casa isolada no meio do mato, em busca de um recomeço.

          Mas o combate de Marco vai bem além da estafa com relação ao trabalho. Ele também sofre de crises de ansiedade, é inseguro, tem baixa autoestima, é resistente à mudanças e frequentemente tem episódios depressivos. Em meio a tudo isso, Marco também terá que lidar com um relacionamento em curso, a relação problemática com o pai, um vizinho enigmático e os desafios de recomeçar sua carreira. Jornada essa repleta de desafios e aprendizados constantes, uma luta que Marco deverá enfrentar todos os dias. Literalmente, um combate cotidiano.


          A primeira coisa que chama a atenção na obra é o traço. Diferente de "Brodeck", aqui temos uma arte totalmente cartunesca, fazendo contraste com a seriedade dos temas retratados Ao longo da narrativa, o autor também irá trazer algumas variações e soluções interessantes para descrever situações específicas, como o quadro exageradamente riscado de vermelho para retratar as crises de ansiedade de Marco e o traço mais realista em seus momentos de reflexão aprofundada.

          A narrativa intercala entre momentos sensíveis, bem humorados e realistas. Não é exatamente aquela leitura de conforto, pra aquecer o coração e transmitir uma mensagem bonita, apenas (embora possa fazer isso em alguns momentos). A ansiedade e a depressão são abordados de forma nua e crua aqui, permitindo ao leitor conhecer um pouco da realidade de quem passa por esses problemas e provocando uma forte identificação com quem os enfrenta. Ao longo da leitura, nós torcemos por Marco, vibramos juntos, nos emocionamos e também nos irritamos com ele, afinal, ele é humano e, assim como nós, não está livre de defeitos. De uma forma ou de outra, seu drama acaba nos cativando e trazendo algumas lições valiosas, principalmente sobre como a ressignificação que tanto buscamos às vezes pode estar nas pequenas coisas.


          Minha única ressalva vai para o desfecho do quadrinho, que deixou um pouco a desejar. Na reta final, Larcenet dá um foco no cenário político da França, até então um pano de fundo da história, e acaba deixando um pouco de lado o desenvolvimento do protagonista, inclusive deixando algumas subtramas pelo caminho. Isso não só deixou a última parte arrastada, mas desinteressante. O que é uma pena, já que a história vinha sendo construída com maestria até esse ponto. Tudo isso acabou ofuscando um pouco o brilho da obra, que ainda assim tem o seu valor, mas tinha tudo para se tornar uma favorita e não foi.


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