Apesar de tratar de um tema pesado, essa é uma leitura bastante fluida já que a narrativa se dá através de um semi-fluxo de consciência, o que também nos permite acompanhar mais de perto os conflitos internos e a derrocada da protagonista. É um livro que retrata a depressão de forma nua e crua, sem moralismos e sem aquele tom de autoajuda disfarçado que vemos em alguns romances do tipo. A depressão é um gigantesco tabu na nossa sociedade, geralmente ou ela é incompreendida ou simplesmente varrida pra debaixo do tapete. E como resultado, aprendemos a ocultá-la da mesma forma como trancamos um cômodo bagunçado quando recebemos visitas em nossa casa. Por isso acho importante esse tipo de leitura, onde temos um contato mais direto com esse lado do ser humano. Experiência essa que pode sim ser desagradável, mas que revela algo sobre a nossa existência nesse mundo caótico.
Mas, esse não é um livro somente sobre depressão. Ele também irá abordar temas como as hipocrisias sociais, relacionamentos vazios, sexualidade, maternidade, etc. Não é um livro feminista, mas que retrata o que é para uma mulher viver em um mundo patriarcal. Ao longo da leitura, vamos perceber que muitas das dores da protagonista têm raízes nessa complexa relação. E a partir do ponto em que ela se entende como deprimida e chega a conclusão de que não há mais saída, rompe com qualquer convenção social e passa a falar aquilo que pensa, esses temas vêm à tona com toda a força. E daí surge um outro questionamento que eu sempre trouxe aqui dentro de mim: o que torna uma pessoa deprimida? Qual seria o gatilho? Seria ela predestinada a isso? Ou são nossas escolhas (e não escolhas) que nos adoecem? E qual seria a parcela de culpa da sociedade nisso tudo? Aliás, depressão tem culpado? Questões essa que o livro não responde e nem poderia, afinal, a vida é complicada e nada que vem da depressão é simples.
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