RESENHA: Saguaro #1


          Confesso que, dentre os personagens da Bonelli, Saguaro era um dos que menos me atraía. O visual meio Steven Seagal, o tipo durão... Sei lá, havia algo ali que me deixava com um pé atrás. Resolvi dar uma chance e, como de costume, acabei de surpreendendo! Saguaro é um navajo que, após dar baixa no exército norte-americano, está voltando pra sua terra natal: Window Rock, uma região árida e marcada por um longo histórico de conflitos entre os povos originários e o homem branco. Conflitos esses que não foram de todo extintos e que ainda se encontram profundamente arraigados na sociedade que nosso protagonista encontra em sua volta ao lar. Com o intuito de acalmar os ânimos no local, o governo decide torná-lo um agente federal, algo que Saguaro está reticente em aceitar, mas que acaba topando após presenciar uma série de injustiças e abusos cometidos na região. Mas essa não será uma tarefa fácil, já que ele não é aceito pelos brancos por conta de sua origem navajo, mas também parece ter perdido as raízes que o conectavam com seu povo. Saguaro é um homem que está à margem.


          O volume traz cinco aventuras que retratam os dramas dos povos originários em uma era moderna (as histórias se passam no anos setenta do século XX) e que discutem questões atualíssimas, ainda mais para nós que vivemos no Brasil e que estamos acostumados a ver notícias de abusos e violência cometidos contra povos indígenas. Um traficante que toma propriedades a seu próprio gosto, líderes governamentais dispostos a fazer qualquer coisa por um pedaço de terra, forças nacionais mobilizadas para agir contra o desfavorecidos, policiais desequilibrados e nativos tomados de ódio, essas são apenas algumas da situações que veremos aqui. São histórias repletas de ação, drama, violência, recortes sociais e contexto histórico, com narrativas que prendem do começo ao fim e que chamam a atenção para um tema de suma importância.


          Quanto à arte, segue o padrão Bonelli, isto é, aquele preto e branco simples mas muito bem executado, com destaque para as cenas de ação e as imponentes paisagens desérticas. São cinco histórias desenhadas por cinco artistas diferentes, sendo eles: Fabio Valdambrini, Luigi Siniscalchi, Alessandro Pastrovicchio, Italo Mattone e Marco Fodera (minha única ressalva vai para o traço desse último, que achei um tanto "quadrado" mas nada que comprometa).

          Pode-se dizer que Saguaro é uma mistura de "Ken Parker" e "Nick Raider". O primeiro por se tratar de um faroeste moderno e que discute questões de raça e classe social, sem romantizar o tema e tratando-o com a seriedade que merece; e o segundo por se tratar uma trama policial com tudo o que é de direito do gênero: troca de tiros, perseguições, etc. O resultado são narrativas envolventes e que dosam muito bem a ação e a dramaticidade. Mais uma grata surpresa da casa editorial italiana e do belo catálogo da editora 85, dessa vez em parceria com o selo Lorobuono Fumetti.

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