RESENHA: Um Conto de Natal - Carlos Giménez


          "Um Conto de Natal", de Charles Dickens, é uma laranja que já foi espremida até o bagaço, isto é, ganhou inúmeras adaptações. Mas aqui, o renomado quadrinista espanhol Carlos Giménez não se limita a adaptá-la. O quadrinho apresenta uma releitura da obra de Dickens, cruzando-a com a própria biografia de Giménez e ainda tecendo alguma críticas políticas e sociais, sem deixar de propor, é claro, aquelas fatídicas reflexões sobre a vida que tanto nos afligem nessa época do ano. Inclusive, já estava com esse quadrinho há algum tempo aqui na estante e resolvi lê-lo agora justamente por me ver mergulhado nesse estado de melancolia.

          No lugar do avarento Scrooge, temos aqui Pablo, um velho quadrinista solitário que passa os dias recluso, mergulhado entre seus desenhos e doses de cuba-libre antes do meio-dia. Após recusar inúmeros convites da família para passar o Natal, ele recebe a visita de um velho conhecido que o alerta: "Três espíritos virão te visitar..." Tem início então uma série de viagens pelo tempo e o espaço, onde Pablo, na companhia dos Espíritos do Natal, revisita momentos marcantes de sua vida, repensa seus valores e desperta para a consciência da própria finitude. Mas será isso o suficiente para mudar o seu modo de agir a essa altura da vida?



          A narrativa é envolvente e repleta de significados, proporcionando momentos que vão desde o humor até a comoção. A arte apresenta traços simples, porém muito bem executados, trazendo um preto e branco de primeira, bem ao estilo Giménez. A trama, é claro, tem as suas previsibilidades - afinal, já conhecemos essa história à torto e a direito -, mas, ainda assim, reserva algumas surpresas, em especial com relação ao desfecho. E para aqueles que já conhecem o autor, tem todo um gostinho especial em vislumbrar um pouco de sua juventude e trajetória de vida.

          É uma releitura interessante de um clássico da literatura vitoriana. Tem o seu valor, mas, infelizmente, não foi uma leitura muito marcante. Achei que o autor se esticou demais em algumas partes e deixou de se aprofundar em outras, resultando em algo demasiado raso para um material autobiográfico e um pouco extenso para uma trama tão curta. Em suma, não é uma leitura de todo ruim, só é esquecível. Se você procura por uma leitura temática para esse fim de ano, cumpre o seu papel, mas não vá esperando nada extraordinário. Além disso, a edição é exageradamente luxuosa para uma HQ mediana, mas entendo a escolha da editora em procurar manter um padrão na coleção.


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